segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Sépia;

É a angústia de se arrepender. Acordar e perceber que não há nenhum outro alguém como você. Sente-se só. Lembra de cada momento e sonhos que guardou antes de ir dormir, todos empilhados para não confundir. Olhou ao seu redor e tudo continuava da mesma maneira, eram quadros e quadros alinhados, que desbotavam aos poucos. Sorrisos iam sumindo das frontes ali representadas, não havia emoção por trás daquelas telas, todas eram idênticas e não faziam questão de se demonstrar diferentes. "Eram apenas quadros" - pensei comigo. Senti minhas pernas fraquejaram, os braços já dormentes apoiavam a cabeça no joelho. Ali ficou, sem ninguém tocar. Cada vez que tentava levantar, caía tombos maiores. Antes fora apenas uma porta, logo seria apenas uma escada, uma avenida. Estava se despedaçando aos poucos, tanto sofrimento para algo que sequer lembra, algo que sequer tem certeza que existiu. Finalmente acordou, outra vez. Sentiu a brisa da janela passar em suas maças. Era como música, de um só soneto. Simples acordes. O cantar dos passarinhos parecia distante, assim como os primeiros raios de sol que surgiam ao longe. Cada instante que passava, sua vista tornava-se mais embaçada, tinha medo de lutar, poderia ficar sem forças. Escutava risadas, vozes que diziam para parar. Não era mais tempo, se tivesse que desistir, seria muito antes. Apenas lembra dos quadros, das fotografias semelhantes, e de um copo de água na beira da cama, este não sabia bem o fim. Não sentia-se bem, pelo contrário, sentia-se pior do que qualquer outra pessoa existente. Nem fora tão grave, é o que um falariam. Outros já diriam que era caso de hospício. Hospício? Para diagnosticar o que todos sabem, ela não tem problema algum, exceto as comidas e algumas pílulas salteadas. Quando menos imaginou, a luz brilhou ao longe. "É assim que termina-se a vida?" - era tudo o que conseguia imaginar. Levantou e caminhou, desceu degrau por degrau, ladrilho por ladrilho. E lá estava ele, com o mesmo sorriso de sempre.
(Estou a dois dias sem dormir, surtando aos poucos. Motivo? Uma superdose de um certo remédio, aquele tal de 'Ben'. São 5:55 da manhã, cansei de rolar nos edredons, resolvi descer até o escritório para desabafar. Nessas horas que agradeço ter um blog, sempre posso fugir para cá).