
Corri para o banheiro, estava me sentido mal, não queria olhar nos olhos daquele que me ensinou o que é amar, mas que jamais teve tempo de me explicar como era a dor da traição, e como curá-la.Escutei passos soarem, baques aconteceram, aonde estavam todas as palavras?Abri suavemente a porta, olhei como quem nada quer para o Hall de entrada.Lá estava ele, com seus cabelos claros e compridos jogados sobre a face, um sorriso irônico direcionado ao chão.Percebi a raiva em seu olhar, e com um ultimo baque ensurdecedor percebi a ira solta.Ele havia então caído sobre o sofá, por um instante dei um grito abafado.Seus olhos foram direcionados para meu corpo nu.
-Anna – Foram as suas últimas palavras, pelo menos as ultimas que ouvi.Tentei me mover, e com carência entrei no quarto.Percebi as marcas sobre os lençóis, as roupas jogadas no chão do quarto.
- Você está bem, não está? – Take então sorriu para mim, com aqueles olhos brilhantes, contorcendo de dor, um fio de sangue saia de seus lábios.Senti a obrigação de cuidar, limpei com delicadeza, e um beijo suave, dei – Ele só está um pouco alterado, já liguei para sua mãe, ela disse que vai chegar o mais rápido possível.
-Porque justamente hoje isso haveria de acontecer? – Indignação, dor, angústia.Todos os piores sentimentos me cobriam.O garoto que eu mais amei estava agora jogado em um sofá, dilacerado.E, o meu novo amor, tão atencioso, estava em minha frente, com o sorriso de sempre, aconchegado em meus braços.
-Nana, não diga nada, não relute.Quero que você se troque, e fique por um tempo aqui no quarto, vou na farmácia ao lado, ver se encontro um kit de primeiros socorros, acho que Jamie precisará disso.
Sei que o certo seria, me comportar como ele havia mandado, mas não via solução melhor do que afagar os cabelos de meu ex.Esperei ouvir um trinco se fechar, na janela fiquei até ver ele sair.Em disparada abri a porta do quarto, ele já estava ali, me esperando.
-Anna, não me diga que pode me trair – Com aqueles cabelos jogados, me impulsionou para a cama.Tentei escapar, tentei bater em sua face, qualquer coisa que fosse necessário e causasse dor a ele – Não se mecha, você já deve estar acostumada com isso.
-Saía de cima de mim, Jamie.Você não está em seu melhor dia.Não hoje – A dor já tomava conta de meu corpo, com meu vestido arrancado, percebi os seus olhos encherem de lágrimas.
-Anna, quietinha, quanto mais rápido for, melhor será – Prendendo meus braços, ele se jogou sobre meu corpo.Senti seu suor escorrer, seu coração bater acelerado.Estava muito fraco, sabia que deveria fugir dali.E assim foi, corri em direção da porta, nevava forte do lado de fora, pude perceber Take voltando com sacolas em suas mãos.
-Anna?Anna?Fale comigo – Caí em seus braços, não sentia mais meu corpo.
Depois dessa noite, jamais acordei.Toda dor que sentia, todas as minhas memórias foram largadas.Imagino quantas pessoas não choraram ao ver meu carro batido contra uma árvore.Talvez essa fosse a morte ideal para um casal apaixonado, ao auge de seus 18 anos.Abraçados, dormentes, com um amor envolvente.Eu e ele, como um só.
Acabei morrendo ao lado da pessoa que mais amei, que me ensinou a verdade sobre viver.O meu pequeno Jamie, ali do meu lado, carregando meu corpo raptado dos braços de um namorado qualquer.O destino é incerto, não há do que retrucar.Só queria poder me despedir de todos, dizer o quanto queria o bem de cada um.
Um final perfeito se é que posso dizer, mesmo depois de todo o sofrimento que ele me fez passar, essa foi a prova de que nosso amor nunca morreu.
-Você está pronta? – As suas últimas palavras soaram como uma canção dos anjos, penso que ao ver meus olhos pregados, ele percebeu que eu sempre o amei – Não se esqueça garota, se um dia existiu amor, ele é o ultimo que perece.Agora me abrace, assim ficaremos unidos como um só.
Um comentário:
Obrigado por fazer o texto,
que tanto pedi,
está realmente muito bom,
como todos os outros.
Abraços, de seu leito assíduo,
Carlos Manuel.
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