domingo, 29 de junho de 2008

Intuição

Aquele sussurro de vento soou como tormenta singela.Lembrava um chamado de anjos, um alaúde que ressoava feito a voz do florescer primaveril.Era ela, dessa vez havia certeza em minha mente errônea.
Dirigi em busca da calmaria sob o pé da lareira, aquele calor libertava incondicionalmente meus maiores receios.Era solução, feito as nuvens que vagueiam entre pássaros.Durante as horas seguintes me senti largado no sofá de couro marrom, todo o ambiente ao meu redor fora modificado em um baque de instantes. A escuridão da saleta, entre páginas amassadas e lenhas secas.Os quadros de escritores famosos observavam minha angústia, entre a cabeça abaixada e o canto verde-musgo.A faca sobre a mesa, de cabo metalizado e reluzente chamara a maior atenção.
Este era meu destino, morrer pela saudade que revidava as peripécias de meu sonoro coração.Era melhor me render por cada traço de seu corpo retratado na folha jornalística matinal, do que falecer por amargura de saber que jamais saciaria minhas antigas vontades.
Olhei fixamente para aquele artigo em sépia, onde cabelos embaraçados ignoravam sua beleza.A manchete, em letras deslumbrantemente grandes analisavam: Assassinada a escritora...
Ofuscado pelas lágrimas que escorriam sobre minha fronte, acabei por embrulhar a imagem no cabo da faca, afinal se minha morte já era um fato determinado, que as evidências não fossem presentes.Com a faca relutando em meu pescoço, de maneira objetiva o sangue jorrou contra o chão.Chegara a minha hora, e entre minutos entorpecentes avistei um sorriso iluminado.
- Sabia que viria - Aqueles olhos de raposa fitaram meu corpo despido.
- Isso é pura intuição.O amor jamais se corrompe, caso seja verdadeiro - retruquei, levando minha mão para dançar em suas curvas pálidas.
- Qual o grau?
- Eternidade - Com um beijo calando o momento, as pernas bambearam.Esta era a melhor conclusão, estava traçada em nossos destinos, feito história de romance policial.Éramos sombra e alma, unidos como um só.

Dedico ao melhor poeta, artista e leitor que conheço, como singelo presente de aniversário.

Um comentário:

Cthetrouble disse...

Muito obrigado pelo texto,
um dos mais belos que ja li.
Não tenho nem palavras para,
agradecer você.

Mesmo assim, muito obrigado,
beijos e abraços.

De seu amigo Carlos.